Os ensaios se originaram em cursos ministrados por Lino de Macedo, professor dedicado às complexas relações entre Psicologia e Educação. O trabalho de Jean Piaget (1896-1980) é a referência para todos os textos e acaba por sempre nos remeter à razão da existência da escola: as crianças. Como afirma Macedo, "crianças e natureza entram aqui como aqueles que possuem o saber, o que implica termos que recorrer a elas de modo sistemático e consistente para a construção de um conhecimento científico".
No capítulo Construtivismo e Prática Pedagógica, o autor nos indaga: "Por quê, ao menos provisoriamente no cotidiano da sala de aula, não invertemos as coisas? Ou seja, damos estatuto de conceito ao que dizem as crianças e estatuto de noção ao que dizem os autores?" Pergunta que nos leva a tomar consciência de que o ensino segue a aprendizagem e não o inverso, como praticávamos antes da década de 1980. O autor reitera que ser construtivista é interagir e aperfeiçoar-se. Sendo assim, como educadores nos relacionamos com crianças e conhecimentos e nos tornamos melhores.
No capítulo Método Clínico de Piaget e Avaliação Escolar, outros questionamentos vêm à tona: como formular atividades didáticas que propiciem aos alunos crenças desencadeadas (ou, em outras palavras, quando a criança responde refletindo com os próprios recursos, sem a sugestão dos adultos) e crenças espontâneas (quando a criança não sente necessidade de raciocinar sobre determinada questão porque aquele saber já é patrimônio de sua conduta)? Uma possível resposta: seguindo o sugerido por Lino de Macedo, ao afirmar que amor e conhecimento são formas de relações qualificadas com as coisas, compreendemos que um caminho na vida é trazer as coisas para dentro de nós, aprendendo com nossas próprias experiências e vivências.
Sobre o autor O pedagogo Lino de Macedo é doutor em Psicologia e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Jean Piaget, na Psicologia Aplicada à Educação e nos jogos infantis.
Monique Deheinzelin, autora desta resenha, é coordenadora de Ciências na Escola Comunitária de Campinas, a 100 quilômetros de São Paulo. Publicou Construtivismo, a Poética das Transformações (Ed. Ática), entre outros livros.
Clássico do mês
Trecho do livro
"Outro reexame a que a posição construtivista pode nos encaminhar decorre da própria questão psicológica. Em que nível estamos exigindo uma avaliação do erro da criança? Muitas vezes ficamos frustrados por não poder ajudar a criança, por exemplo, a escrever bem. Voltemos à metáfora do objeto físico: a criança interage com ele dentro de suas possibilidades e necessidades. Além disso, vai enriquecendo (por diferenciação e integração) essas possibilidades e necessidades até chegar a um nível correspondente ao de um professor de Física, por exemplo, que tem uma conceituação precisa sobre a natureza, a mecânica etc. Por que essa psicogênese não pode valer para objetos da cultura? Essa questão nos remete ao problema do livro didático. Por um lado é exigido da criança que escreva ortograficamente bem, independente de seu nível. Por outro, é exigido que os textos didáticos sejam sempre acessíveis à (ou complacentes com a) criança."Trecho do livro
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