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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Educação > Física Prática pedagógica > Ritmos e expressão

Quatro etapas para trabalhar danças na Educação Física

Mapeamento, aprofundamento, ampliação e ressignificação dos conhecimentos são fases essenciais no ensino de atividades rítmicas e expressivas

 

A dança é uma forma de expressão corporal. Por meio de coreografias, os alunos aprendem a interpretar gestos e a conhecer diferentes ritmos. Todo esse aprendizado deve fazer parte do planejamento da Educação Física, como preveem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) - assim como os esportes, as lutas e a ginástica.

Para realizar um bom trabalho, é importante ir além da velha e conhecida fórmula: mostrar à turma uma coreografia pronta, ensaiá-la e apresentá-la. "Quando as danças são trazidas para a Educação Física, deve haver um estudo sobre elas", explica Marcos Garcia Neira, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

Mais do que colocar a turma para se mexer, é preciso refletir sobre os diferentes tipos de dança, apresentar novos gêneros e permitir que os alunos criem passos próprios. "Cabe à disciplina proporcionar experiências que viabilizem práticas significativas com as danças presentes no universo cultural próximo e afastado", aponta o artigo As Danças Folclóricas e Populares no Currículo de Educação Física: Possibilidades e Desafios, escrito por Neira e pela professora Silvia Pavesi Sborquia, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Ou seja, é preciso extrapolar o que é conhecido pelas crianças, aproveitando suas vivências para apresentar novas referências.

Quatro etapas não podem ser esquecidas: mapeamento, aprofundamento, ampliação e ressignificação (veja a sequência didática). Veja como colocá-las em prática a seguir.
1 Mapear e registrar os saberes prévios, com a turma
Uma boa maneira de iniciar o trabalho é mapear a cultura corporal dos alunos. É importante conversar com a moçada para conhecer as músicas e danças de que eles gostam e que conhecem. Esse levantamento serve como ponto de partida para planejar as aulas. As danças apreciadas pelos alunos não devem ser ignoradas: manifestações trazidas por imigrantes ou exibidas pela televisão e lengalengas, que combinam gestos ritmados à música, pertencem à rica gama de manifestações da cultura corporal e podem servir como base do trabalho. Na UME Antônio Ortega Domingues, em Cubatão, a 55 quilômetros de São Paulo, o professor César Rodrigues adotou essa estratégia com a turma de 4º ano. Em sala, ele pediu que todos contassem sobre as práticas corporais que conheciam. "Perguntei sobre os tipos de dança de que gostavam e quais eram as brincadeiras mais comuns." Eles falaram sobre samba e lengalengas.


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2 Aprofundar o conhecimento, rumo a novos saberes
Com base na sondagem, é possível investigar os conhecimentos da turma. Questionar os alunos a respeito do percurso histórico das danças mencionadas, perguntar quem são as pessoas que participam e o que pensam sobre ela são boas maneiras de conduzir a conversa. "Há que se colocar o tema em discussão e fazer relações com a vida", explica Neira. Assim, é possível caminhar em direção a uma cultura mais ampla, que encare as produções corporais como uma dimensão cultural intrínseca ao corpo.

Na classe de Rodrigues, o repertório dos alunos foi o gancho para discutir a oposição entre música popular e erudita. "A ideia era mostrar que as referências culturais trazidas de casa têm valor", explica ele. Os alunos puderam entender as origens de canções familiares e os aspectos da cultura presentes nelas.

 

3 Ampliar o repertório e refletir sobre a diversidade
Além de aprender mais sobre danças conhecidas, é essencial avançar e conhecer novos ritmos. Será que existem outros grupos com danças semelhantes às nossas? Elas têm relação? E o que difere umas das outras? Perguntas como essas tendem a aguçar a curiosidade da moçada e são um chamariz para pesquisas sobre as diferentes práticas de nossa cultura corporal.

No mapeamento com os alunos da UME Antônio Ortega Domingues, apareciam ritmos brasileiros, como o forró e o samba. O professor mostrou os aspectos da nossa cultura presentes neles e propôs que a turma conhecesse danças típicas de outros países. A modalidade escolhida foi o tango. "Trouxe canções de Carlos Gardel para ouvirmos", diz Rodrigues. Todos discutiram as características das músicas desse gênero.

4 Ressignificar e produzir novas manifestações culturais
Com base nas referências discutidas, é hora de colocar a turma para criar. A turma do professor Rodrigues, por exemplo, uniu uma lengalenga conhecida e o que aprendeu sobre tango em classe para preparar uma nova coreografia. "Os alunos inventaram a letra e sugeriram o ritmo. Eu fui musicando", lembra.

Os passos do tango e o drama presentes nesse tipo de canção foram empregados em uma música que contava a história de uma casa mal-assombrada. "Esse tipo de recriação de danças que ocorre na escola recebe o nome de ressignificação", explica Neira. Por meio dela, é possível mostrar a importância da expressão corporal sem exigir que todos dancem igual. Assim, eles têm a chance de explorar manifestações culturais, atribuindo novos sentidos a elas.

Reportagem sugerida por 3 leitoras: Aninha Almeida de Souza, Campina Grande, PB, Juliana Jacinto, Campinas, SP, e Maria Francisca de Paula, Ribeirão Preto, SP

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