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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Todos dizem eu te amo


Eu te amo é uma frase fácil de se dizer e deliciosa de se ouvir. Nas novelas da TV, então, fica especialmente glamourosa. Talvez por isso tenha se tornado uma expressão banal, repetida por namorados, amigos, parentes, amantes e cônjuges – mesmo que, algumas vezes, de forma quase protocolar, burocrática.
Vamos pôr um mínimo de ordem neste galinheiro. Dizer eu te amo deveria ser algo um pouco mais sagrado, menos trivial, até em respeito aos “monstros sagrados” que pensaram originalmente sobre o conceito do amor. Pelo que sabemos, os pioneiros foram Confúcio, Buda e os filósofos gregos, coincidentes, em grandes linhas, na forma de refletir sobre a compaixão, entendida aqui no sentido rico da empatia e da generosidade, não no significado restrito da pena. Trata-se de participar do sentimento do outro – no fundo, a maneira mais generosa de amar: “não devemos fazer aos outros o que não queremos para nós próprios”. Igualar o outro a si próprio é o melhor jeito de amar, porque é a melhor defesa para o próximo, a forma mais garantida de respeitá-lo. Mais tarde, Cristo e Maomé voltariam a insistir no conceito: amar o próximo como a si mesmo.
Neste sentido, amar é uma atitude filosófica e/ou religiosa (porque busca dar um sentido à vida) que exige um esforço na direção do não-egoísmo. Significa, numa relação, não colocar seus interesses egoístas na frente dos interesses do parceiro. Assim, todos podem dizereu te amo. Entretanto, há formas ocas, vazias, “da boca pra fora”, como se um papagaio repetisse a frase. E há também formas sublimes, com conteúdo, ditas com o coração. É mais digno de proferi-la quem pensa no outro, ou, como defenderam os filósofos e os profetas, quem trata o outro como gostaria de ser tratado. Acho muito discutível, por exemplo, que alguém possa matar “por amor”, justificativa hipócrita para certos crimes passionais. Se isso for amor, trata-se de um amor de quinta categoria, egoísta, subumano. Parece mais sadismo patológico. Mas, mesmo em cenários menos trágicos, alguém que na prática cotidiana – inclusive nas coisas mais triviais – não cumpre o que foi combinado a dois, de comum acordo, também não tem autoridade total para dizer que ama o parceiro, simplesmente porque o ignora, não o leva em conta, não o respeita. Muitas vezes, até com a cumplicidade masoquista do parceiro.
Amar de verdade dá trabalho, exige elaboração, questionamento e, principalmente, prática. Amar é ver o outro como um igual, colocar-se no lugar dele, e demonstrar essa atitude cotidianamente. E pedir desculpas quando isso não ocorrer – desde que a necessidade de pedir perdão seja exceção, não regra.
Em suma, há amores e amores, e formas e formas de declará-los. Considero que uma de nossas grandes missões na vida é ter autoridade para poder dizer, do fundo da alma, e de boca cheia: eu te amo!

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